Mas o Joãozinho era uma criança triste, ás vezes ele ainda chora, porque teve medo de contar algumas coisas ruins que aconteceram com ele.
Certo tempo atrás o pai dele fez umas coisas feias com ele. Quando a mãe dele saia para trabalhar, o pai ficava em casa cuidando dele e dos 2 irmãozinhos menores. Ás vezes o pai dele ficava muito nervoso e gritava com eles, brigava com a mãe. Ele tinha muito medo de apanhar.
Ás vezes, o pai o chamava, quando não tinha ninguém perto e fazia coisas ruins com ele e avisava para ele não contar pra ninguém, se não ia bater muito nele. O Joãozinho tinha muito medo e não tinha coragem de falar nada pra ninguém.
Ele não sabia direito o que estava acontecendo, mas doía muito e ele passava mal... Ás vezes vomitava e tinha dor de barriga, mas mesmo assim, tinha muito medo de apanhar do pai.
O pai do Joãozinho não cuidava dele, não respeitava ele. Tocava no corpo dele com as mãos e fazia coisas de adulto com ele. Mesmo quando ele pedia para parar o pai dele não parava, e sempre falava pra ele não contar pra ninguém, pois ninguém ia acreditar nele e ele ia apanhar.
Ele chorava escondido para ninguém desconfiar, era triste, não gostava de ficar perto das pessoas, tinha medo que outros adultos fizessem a mesma coisa que o pai fazia. Não queria estudar, nem brincar, nem comer nem nada.
Quando estava na escola, ficava aliviado por estar longe do pai, mas na hora que a aula acabava, batia aquela tristeza, aquele desespero então ele começava a chorar. Não queria ir pra casa. Até ficar na rua era melhor.
Um dia, uma professora nova, percebeu que o Joãozinho era muito triste e sempre chorava, e viu que na hora de ir embora ele ficava muito nervoso. Ela ficou bastante preocupada e chamou o menino para conversar.
Ela notou que ele tremia muito e insistiu para ele confiar nela, pois iria ajudá-lo. Ela garantiu que era amiga dele e não deixaria que ninguém fizesse mal à ele.Então o Joãozinho tomou coragem e contou tudo o que o pai fazia com ele, as agressões e as ameaças. Contou que na frente dos outros o pai dele se fingia de bonzinho, e não o machucava.
A professora chamou a mãe do Joãozinho e uns amigos dela que eram do Conselho Tutelar e juntos eles protegeram o Joãozinho, e nunca mais o pai dele o machucou.
Uma moça muito boazinha que é psicóloga toda semana conversa com o Joãozinho, pra ajudar ele a superar a tristeza de tudo que ele passou.
As vezes ele ainda tem medo de adulto, mas aprendeu que existem pessoas boas que ajudam as crianças que sofrem.
Ele também descobriu que muitas e muitas crianças sofrem o que ele sofreu.
Ele descobriu que nem sempre o pai é quem machuca, mas o namorado da mãe, um tio, um avô, um irmão ou mesmo um amigo da família.
E que existe até, pessoas estranhas que oferecem doces, dinheiro e presentes em troca de tocar no corpo das crianças.
Mas o mais importante, ele aprendeu que não se deve ter medo, que sempre que acontecer algo, deve-se procurar uma pessoa para ajudar, seja um professor, alguém da família, um vizinho, a mãe de um amigo...
Hoje, o Joãozinho não sofre mais abusos, nem maus tratos, ele só lembra e fica triste, mas logo ele lembra que existem crianças que ainda sofrem, então ele conta a historia dele para as pessoas, e tenta ajudá-las, ensinando que nunca devemos ter medo.
NOTA: Essa história é a biografia da criança imagem/símbolo do movimento Diga Não à Pedofilia e foi formulada com teor pedagógico, para que possamos abordar com crianças a questão do abuso sexual. Cada idade requer uma adaptação, mas a idéia básica é o parâmetro.
Lembrando que 80% dos casos de abuso sexual infantil acontecem no âmbito familiar, é extremamente importante despertar nas crianças a segurança suficiente para que denunciem seus agressores à pessoas que participam de sua vida tanto quanto a família, ou seja na escola. E mais importante ainda é despertar os olhos dos educadores para conhecerem as vítimas, e prepará-los para lidar com elas, amenizando, no dia à dia, os traumas decorrentes dos abusos, tanto em níveis sociais, quanto psicológicos e pedagógicos.
“Que possamos todos, ajudar os muitos “JOÃOZINHOS” que ainda sofrem e choram em silêncio, muitas vezes pelo nosso descaso e despreparo!”
Sallime Chehade- Pedagoga
