. À frente de apenas 400 homens, com 12 cavalos, munidos com 32 escopetas e quatro canhões, contando com apoio de algumas tribos indígenas do planalto mexicano, ele enfrentou e derrotou 500 mil astecas, guerreiros contumazes e ferozes, aniquilando o Império Asteca e conquistando a região para a Coroa Espanhola. A vitória só foi possível porque antes, por meio de um discurso simples, mas apaixonado, Cortez inflamou os espíritos de seus bravos soldados. Seu discurso, dramático, repleto de figuras exaltativas, é uma ode à exortação, uma brado de coragem, um dínamo de convicção e de fortaleza, absolutamente focado, no linguajar de hoje. Ei-lo: Soldados de Espanha! Antes de tudo há que lutar! As caravelas, mandei-as afundar, para não terdes qualquer veleidade de voltar. Há que lutar com as armas que tendes à mão. E se vo-las romperem em violento combate, então há que brigar a socos e pontapés. E se vos quebrarem os braços e as pernas, não olvidei os dentes. E se havendo feito isso, a morte chegar, mesmo assim não tereis dado a última medida de vossa devoção, não! É preciso ue o mau cheiro de vossos cadáveres empeste o ar e torne impossível a respiração dos inimigos de Espanha. Avante, por Deus e por Santiago!
Vê-se pelo tom do emocionante discurso que Hernan Cortez não pensou duas vezes em dar à própria vida à causa maior, contaminando positiva e determinadamente os espíritos dos seus comandados. Diante do inimigo numeroso ele não se acovardou, mas, ao contrário, agigantou-se, transformando uma situação manifestamente adversa em pura motivação. Especialmente relevante à parte final do discurso, pois Cortez conseguiu inculcar em seus comandados a convicção de que suas vidas, se tomadas pelos inimigos, não seriam dadas em vão. Cortez mostrou aos seus homens que mesmo mortos poderiam servir à pátria devotadamente, na medida em que o mau cheiro exalado de seus heróicos cadáveres empestaria o ar dos inimigos, levando-lhes a desgraça. Cortez não prometeu aos seus homens prêmios, delícias, bens; não, ele apenas mostrou o caminho a ser seguido, um caminho que os levaria à glória, mas pontilhado de sofrimentos e adversidades críticas. Cortez fez com que cada homem lutasse não em benefício próprio, mas em homenagem a algo maior, algo muito superior ao “eu”, aos interesses pessoais individuais. A defesa da Espanha, a glória do Reino Espanhol, a vitória sobre os inimigos, estes eram os objetivos de Cortez, os alvos a serem atingidos por seu pequeno e corajoso exército. Longe de ser quixotesco, para ficar noutro exemplo espanhol, Cortez foi brilhante, foi destemido, foi altruísta, porquanto deixou de lado o “eu” e colocou em primeiro lugar o “nós”, com objetivo de defender o “eles”, ou seja, cada pessoa do reino espanhol. O discurso de Cortez ensina exatamente isso, o verdadeiro espírito do guerreiro, a essência do indivíduo convicto num ideal e determinado a alcançá-lo, sem poupar esforços, sem perder tempo com lamentações ou temores. Um discurso que reclama meditação e convida a cada um vencer suas próprias limitações e tibiezas. Espero que a discurso de Cortez, extraído do Livro 100 Discursos Históricos (Editora Leitura, Belo Horizonte, 2002), de Carlos Figueiredo, possa ser útil ao amigo leitor, uma ferramenta para as lutas heróicas do cotidiano, estas sempre pautadas pelas graças de Deus.