RIO — Um estudo divulgado nesta terça-feira pela ONG britânica Internet
Watch Foundation mostra que crianças de até 7 anos de idade estão produzindo e
divulgando conteúdos eróticos ou sensuais na internet. Realizado entre setembro
e novembro do ano passado, o levantamento rastreou 3.803 “imagens ou vídeos de
nu ou seminu produzidos por pessoas jovens em atividades eróticas ou sexuais e
intencionalmente compartilhados por meios eletrônicos”. A maior parte (88%) do
material exibe jovens entre 16 e 20 anos, mas 667 foram feitos por menores de
15 anos, e, destes, 286 mostravam crianças aparentando 10 anos ou menos.
— Este é o estudo mais perturbador que já fiz. Estamos muito surpresos
com o que estamos vendo, por conta da idade das crianças — afirmou Sarah Smith,
que coordenou a pesquisa.
Um estudo similar foi realizado em 2012, mas naquela época nenhuma
criança com menos de 13 anos foi identificada. Do material exibindo menores de
15 anos, 93% mostravam meninas, e a principal tecnologia utilizada foi a webcam
(86%). Quase metade dos casos tinha imagens envolvendo atividade sexual (47%),
sendo que 2,1% envolviam penetração, animais ou sadismo.
— O estudo mostra um comportamento entre os jovens que não era observado
anteriormente. Longe dos “selfies”, compartilhados entre os jovens em
relacionamentos, ele mostra crianças se envolvendo em atividades sexuais pela
webcam — afirmou Susie Hargreaves, diretora executiva da IWF. — Nós observamos
crianças fazendo isso em seus quartos e banheiros. Algumas crianças e
adolescentes parecem ter uma relação ativa com a pessoa do outro lado da
webcam.
POPULARIDADE OU CHANTAGEM
De acordo com os responsáveis pelo estudo, financiado pela Microsoft,
uma criança é levada a publicar uma imagem sua nessa situação por dois motivos
principais: ela pode estar sendo chantageada por um criminoso, ou pode,
simplesmente, fazer isso para ganhar popularidade nas redes sociais.
Num dos casos, uma menina de 7 anos aparece maquiada, deitada na cama,
vestindo roupas íntimas. A filmagem foi exibida num site de vídeos privados que
funciona como uma rede social e faz um ranking de popularidade dos usuários com
base no número de seguidores, curtidas e comentários. Em dado momento, a menina
diz que não vai fazer tudo o que as pessoas estão pedindo, mas “vai mostrá-la”.
Então, se levanta e exibe a genitália. Em outro vídeo, uma menina de 12 anos
faz um close de si mesma enquanto urina, após dizer ao espectador: “agora somos
oficialmente namorados. Namorados virtuais, já que nunca poderemos nos beijar
de verdade”.
E os pais devem estar alertas para esse fenômeno, diz a psicóloga
infantil Daniella Freixo de Faria. Muitas vezes, os adultos ainda estão
aprendendo a lidar com a tecnologia, enquanto seus filhos já nasceram
conectados. E esse descompasso pode abrir brechas para que as crianças adotem
comportamentos inadequados no mundo virtual, sem que os pais percebam.
— Os adultos precisam ter um cuidado educacional para informar às
crianças que os valores que permeiam as relações no mundo real devem estar
presentes no virtual — diz Daniella. — Nosso cuidado de educar os filhos a não
falarem com estranhos na rua precisa ser estendido para a internet.
Em outra filmagem, uma criança, aflita, balança a cabeça diversas vezes
antes de tirar a roupa. Segundo os pesquisadores, é uma evidência de que esses
jovens podem estar sendo vítimas de extorsão sexual. A criança exibe um
conteúdo íntimo a uma pessoa, que, em seguida, usa isso para obrigá-la a se
expor ainda mais, sob “pena” de divulgar o primeiro conteúdo na internet.
Para o diretor da ONG SaferNet Rodrigo Nejm, pais e professores devem
atuar como mediadores do acesso dos jovens à tecnologia.
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LIBERDADE COM MATURIDADE
Para as crianças, a recomendação é que computadores, tablets e
smartphones tenham softwares de monitoramento, que filtrem o conteúdo que pode
ser acessado, mas para os adolescentes, a vigilância nem sempre é a melhor
opção.
— A internet é uma grande praça pública. Os pais se preocupam se os
filhos podem andar sozinhos pelas ruas. Na internet é a mesma coisa — diz Nejm.
— Não é tirar liberdade, é saber dar liberdade de acordo com a maturidade.
Caso os pais percebam algum comportamento inadequado ou queiram tirar
dúvidas sobre o assunto, a SaferNet mantém
um canal de atendimento on-line em seu site. Crianças e adolescentes
também podem consultar os especialistas.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/sociedade/tecnologia/criancas-de-ate-7-anos-se-expoem-em-videos-sensuais-na-web-diz-estudo-15562462#ixzz3UBS3n7SS
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