Por muito tempo, personagens bíblicos habitaram em tendas, assim como alguns povos o fazem até hoje
Por Marcelo Cyprianomarcelo.cypriano@arcauniversal.com

“Pela fé Abraão, sendo chamado, obedeceu, indo para um lugar que havia de receber por herança; e saiu, sem saber para onde ia.
Pela fé habitou na terra da promessa, como em terra alheia, morando em cabanas com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesma promessa.”
Pela fé habitou na terra da promessa, como em terra alheia, morando em cabanas com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesma promessa.”
(Hebreus 11:8-9)
O trecho acima mostra uma das passagens bíblicas em que as pessoas moravam em tendas, habitações leves e desmontáveis, portáteis. Tinham de ser leves, porém, resistentes, protegendo do frio da noite, do calor do dia e de outras intempéries, como a chuva.
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As tendas dos hebreus do Antigo Testamento eram feitas, na maioria, de couro de cabra. Costuravam-se várias peças a fim de formar uma grande cobertura que, posta sobre estacas e esticadas com cordas presas ao chão, serviam de abrigo. Tecidos coloridos serviam de paredes externas e internas, conforme a cabana.
Barracas como essas abrigaram o povo hebreu quando saiu do Egito rumo à Terra Prometida, durante 40 anos de deserto. Mesmo o Tabernáculo era uma grande tenda, um galpão de tecidos e madeira, um grande templo portátil e desmontável que acompanhava a caravana. Antes dele, Moisés, retirado do acampamento principal, falava com Deus em uma pequena barraca.

Ainda hoje, muitos beduínos moram em tendas pelo deserto, com um modo de vida bem parecido com os hebreus dos tempos bíblicos, embora alguns usem materiais mais modernos para suas cabanas. O costume das moradias móveis de tecido nunca foi completamente deixado.
A popular Festa dos Tabernáculos, em que algumas famílias chegavam até mesmo a acampar, lembrava aos judeus a época em que tudo era transitório, quando tinham que fazer muito usando pouco. Isso os alertava a dar mais valor ao que haviam conquistado após muitas gerações, já morando em residências fixas. Os tempos humildes de deserto retornavam, ainda que metaforicamente, para chamar-lhes à razão e nutrir sua gratidão a Deus.

Paredes de pano
Algumas vezes, as paredes externas das tendas eram feitas com o mesmo material do teto, o couro. Mas outras eram feitas de tecidos coloridos (ou até bonitos tapetes), assim como as internas, incluindo a da frente e a do fundo, como cortinas móveis ou fixas, de acordo com o uso. Quando o tecido era usado nas paredes externas, tornava-se impermeável após a primeira chuva, já que a trama se encolhia. Tapetes forravam o chão, ou o mesmo era deixado como era encontrado: terra batida, de acordo com as posses dos habitantes.
Somente o marido ou o pai tinham permissão entre os homens para adentrar à cabana, onde ficavam as mulheres. Se um estranho ali entrasse, podia ser punido com a morte. É comum a um leigo, ao ler Juízes 4, acusar a personagem Jael como traiçoeira pelo que se passou em sua tenda. Sísera, comandante do exército canaanita que oprimia os filhos de Israel, teve suas tropas vencidas pelos homens israelitas de Baraque. Fugindo, Sísera encontrou Jael, cujo marido, Héber, não estava em casa. Ela o protegeu em sua barraca. Exausto, o comandante de Canaã adormeceu profundamente, e Jael o matou, cravando uma estaca da tenda em seu crânio a ponto de atravessá-lo. Embora pareça que isso foi realizado traiçoeiramente, a mulher somente usou de um artifício que a lei da época lhe permitia: que um homem que não fosse seu marido ou pai fosse morto se entrasse em tenda alheia. Exerceu seu direito, e cumpriu uma profecia ditada pela juíza Débora no monte Tabor: a de que Sísera seria entregue a Israel, pelas mãos de uma mulher, naquele dia.
Outros costumes
As visitas eram recebidas na parte da frente da tenda, em uma parte só com o toldo do teto, como uma varanda. Foi numa dessas fachadas que Abraão estava, procurando um lugar mais fresco para aplacar o calor desértico, quando três anjos chegaram para anunciar que, dali a 1 ano, ele e Sara teriam um filho de seu próprio sangue (Gênesis 18:1-2).

Quando a família aumentava, ou tornava-se mais próspera, ampliava-se a tenda. Acrescentavam-se mais peles de cabra ao toldo principal, e mais cortinas viravam divisórias internas e externas. Essa adição ao tamanho foi usada para exemplificar como o povo cresceria, no Antigo Testamento: “Alarga o espaço da tua tenda, estenda-se o toldo da tua habitação, e não o impeças; alonga as tuas cordas e firma bem as tuas estacas. Porque transbordarás para a direita e para a esquerda; a tua posteridade possuirá as nações e fará que se povoem as cidades assoladas.”
Isaías 54:2-3
Isaías 54:2-3
Os pertences da família (armas, utensílios de cozinha, vasilhas com água e alimentos, brinquedos e ferramentas, entre outros) eram depositados junto às estacas internas que sustentavam o teto.
Palácios itinerantes
Como exemplificamos com o Tabernáculo, as tendas não eram somente simples, como a maioria. Podiam ser luxuosas. Quando os reis viajavam, por exemplo, suas grandes barracas, repletas de conforto, podiam ser feitas de tapeçaria nobre, tecidos finos e até mesmo estacas enfeitadas com ouro e pedrarias preciosas. Generais também tinham suas cabanas de destaque quando os exércitos acampavam em tempos de guerra (como na foto abaixo, da minissérie "Rei Davi"), ou mesmo em viagens para treinamento.

Mesmo que o líder de um povo se abrigasse em uma tenda comum, ela tinha que ter um diferencial das demais. Era comum que uma lança fincada à entrada mostrasse que ali havia um rei. Ou mesmo quando não houvesse tenda separada: em um acampamento no deserto de Zife, quando Saul dormia entre seus seguidores numa das perseguições a Davi, sua lança estava fincada à sua cabeceira. Davi, pé ante pé, chegou até o monarca adormecido e roubou-lhe a lança, além do cantil com água, para depois mostrar a ele que chegou perto e poderia ter tirado sua vida se o quisesse (1 Samuel 26).
Já se vai o tempo em que os hebreus viviam em tendas. Mas aquela época é frequentemente lembrada pelos seguidores de Deus, quando simples pedaços de tecido os separavam dos perigos externos, mas eles contavam com a proteção divina, com fé na Terra Prometida que um dia viria.