Por Marcelo Cypriano
Metrossexual, übersexual ou qualquer outra categoria criada limitam o que é ser homem de verdade
marcelo.cypriano@arcauniversal.com

Eu sei que é imprescindível ler o rótulo de um produto que compramos no supermercado. Sei que a bula do remédio foi feita para ser lida. Que faz bem dar uma geral no manual de instruções doeletrodoméstico novo sob o nosso teto. Mas há gente querendo ler o rótulo... de gente!
Isso mesmo: de gente, pessoa, ser humano. Em tempos de redes sociais, parece que primeiro gostam do perfil publicado e só depois gostam do dono. Se é que gostam. E é certo que a pessoa já imagina um perfil, e só depois sai procurando alguém que se encaixe nele. Ou procuram alguém que preencha a “vaga” de companheiro, aquele que apresentar o melhor currículo.
Aí entra a publicidade, inventando rótulos. “Agora as mulheres preferem homens assim assim.” “Homem assim assado é a nova tendência.” Jeito de ser virou moda? Fica em evidência e passa? Daqui a pouco, se alguém quiser encontrar um homem vai ter de procurar num brechó?
Após a difusão do termo “metrossexual”, ou seja, homens mais preocupados com a aparência, inventaram o übersexual. Über é a palavra alemã equivalente a acima da média ou super. O tal nome novo indica um homem mais voltado ao padrão tradicional que o termo anterior – aquele do cara que se preocupa em demasia com grifes, depilações e cremes para a pele.
Em tempo: ninguém aqui está julgando. Cada qual com suas manias.
Ironicamente, o novo termo foi inventado pelos mesmos criadores do anterior, (metrossexual), que lançaram o livro “The Future of Men” (“O Futuro dos Homens”) nos idos de 2005. Os autores (Marian Salzman, Ira Matathia e Ann O'Reilly – curiosamente, só um homem no trio) são tidos como guruspublicitários e queriam criar uma nova tendência. Voltamos ao comércio, é claro. Será que os homens não aguentaram a pressão de terem de se cuidar tanto esteticamente (algo para o que muitas mulheres têm uma facilidade incrível) e resolveram voltar atrás?Quer dizer que, de simples homens, quiseram forçar uma tendência mais narcisista e o próximo passo evolutivo é sermos “super-homens”. Não é exatamente isso, embora essas terminologias que inventam não me convençam muito de sua necessidade. Não é nada tão Nietzsche assim, ou relativo ao famoso personagem dos quadrinhos. É simplesmente um retorno do homem ao modo tradicional de ser. Um resgate de somente ser homem e pronto, sem imposições consumistas ao extremo.

Bem, o metrossexual pode ser um dependente de moda (vale salientar: eu disse “pode ser”, e não “é”, generalizando). Ótimo para quem não liga para moda, pois nunca teria paciência pra ser um deles. Há uma grande quantidade de homens que não têm a menor vontade de se render a creminhos, roupas assim e assado (embora não andem, necessariamente, mal vestidos), ficar sei lá quanto tempo num salão fazendo sei lá o que no cabelo...
Segundo a imprensa, está de volta a imagem mais clássica do homem. A meu ver, ela nunca desapareceu. Estava por aí, se não viam é porque não queriam.
Conforme os autores do livro, a virilidade do überman não se refere à intensa atividade sexual, mas apenas a uma recuperação da masculinidade perdida nos últimos tempos. O tradicional seria um homem confiante,sem ser metido. Embora tenha estilo, esteticamente falando, não é escravo dele, sem excessos. Busca a qualidade em todos os aspectos da vida, e não só em um deles. Equilíbrio, repito. O cara percebe a realidade à sua volta e gosta do que faz, do que vive.

Ah, e reconhece que precisa da mulher ao seu lado. Também dos filhos, do restante da família e dos amigos.
Tudo está em constante mudança no mundo. Porém, é bem mais simples e gratificante estar no padrão que querem resgatar. Ser homem e pronto! Uma professora de história muito querida disse uma vez: “Ser macho, até bicho é. Qualquer sujeito pode ser. Ser homem é que eu quero ver!”.
Tenho amigos mais vaidosos, até egocêntricos e narcisistas. Tudo bem que enchem a paciência de vez em quando, só faltam pôr um terno para irem à padaria da esquina. Nenhum problema em se arrumar direitinho, mas sem exageros. Outros são muito esculachados (entre os quais me incluo, em determinados dias). Mas gosto de todos eles, cada um de seu jeito.
A iniciativa da Mulher V – resgatar a mulher, a feminilidade, embora inserida na realidade – é bem-vinda. Ninguém nunca disse que é proibido ser feminina por estar no mercado de trabalho ou entre amigos. Com o homem ocorre o mesmo em sua masculinidade. Há quem deseje retornar ao ser homem sem as imposições pseudocomportamentais mercadológicas.
Querem que o homem seja homem de novo, é isso? Eu também gostaria que muitas mulheres voltassem a ser mulheres. Antigamente, não era tido como “normal” uma mulher trabalhar fora, ter sucesso profissional, estudar. Hoje, felizmente é. Mas algumas perdem a mão e deixam de ser mulheres. Uma mulher pode muito bem ser ótima profissional, ganhar bem, até ser independente, mas continuando mulher! Enfim, trocando em miúdos: tem muita gente por aí deixando de ser exatamente isso: gente.
O “novo” padrão que querem evocar é somente o homem ser mais gente, e menos manequim de vitrine.