Por Marcelo Cypriano
Como a pressa do dia a dia pode mudar nossos costumes

Estava eu em uma caminhada matinal rumo ao trabalho, pensando exatamente nisso... No quanto valeu morar relativamente perto do serviço e melhorar minha qualidade de vida na cidade. Nunca me arrependi.
Via as pessoas nos carros – na avassaladora maioria, sozinhas. Uma pessoa só em cada carro, aumentando a quantidade colossal de automóveis que há nas cidades. Dava para contar nos dedos de uma só mão os automóveis que passavam contendo mais de um ocupante. Não é à toa que o mundo inteiro está meio bagunçado em seu clima por causa da poluição.
Por outro lado, não há nada de errado em usar o automóvel, desde que racionalmente. Foi feito para isso, aliás. Pensava nisso quando vi uma garota parando com seu carro no sinal... Só que com um copo plástico pendurado à boca. Ela estava com cara de sono, com jeitão de quem se arrumou às pressas, ainda começando o dia, mesmo em frente ao volante. Segurou o copo (desta vez com a mão mesmo...), pegou algo no banco do carona e levou à boca. Também comia algo, naquele café da manhã ambulante.Carros viraram escritório, dormitório pra quem não está dirigindo (infelizmente, também às vezes pra quem está), sala de estudo no intervalo do semáforo. E salão de beleza improvisado! Uma vez vi uma mulher usando a famigerada chapinha nos cabelos, com o aparelho plugado no conector do veículo... Haja!
Não vou dizer que nunca fiz algo parecido. Eventualmente, é melhor do que ficar com fome. Mas comecei, por exemplo, a notar que hora de almoçar é hora de almoçar, não só de comer. De sentir o gosto, o cheiro. De sentar-me direitinho a uma mesa e aproveitar o momento, mesmo que breve. Café da manhã eu até tomo no trabalho.
Quem mora em família tem a chance de juntar todo mundo à mesa e começar bem o dia, alimentando o corpo, a alma e o coração. Uma família de amigos é especialista nisso e não abre mão do costume, que vai fazer muita diferença na vida das crianças no futuro.

Quem pode passar por alguma cafeteria legal antes de chegar ao trabalho, ou a uma padaria bacana, também pode começar bem o dia. Os italianos adoram um expresso cheiroso em pé, à beira do balcão. Há quem compre em algum lugar para tomar no escritório. Existe quem o faça no refeitório da empresa. Até aí, tudo bem.
Mas há gosto pra tudo... Vai que a moça do carro gosta! Vai que alguém preparou aquele cafezinho para viagem com carinho pra ela não ficar em jejum... A mãe, o marido, um irmão, o pai. Ou ela mesma, pois merecemos nos dar um carinho de vez em quando também.
Há quem aproveite o engarrafamento para dar uma passada de olhos no jornal. Há quem navegue pela web pelo telefone ou tablet. Já que está parado mesmo...
Pode ser que a menina do carro tenha feito isso só naquele dia. Era segunda-feira, quando às vezes é mais difícil sair da cama mesmo... Pode ser que ela tenha se dado de presente mais uns minutinhos de sono e tenha sacrificado o desjejum, improvisando-o no automóvel. Mas, se faz sempre isso, que Deus permita a ela conquistar a pequena felicidade de poder tomar seu cafezinho numa boa, no tempo e no lugar certos, para começar o dia melhor.