Ana Cláudia deu adeus à vida de doméstica e venceu os obstáculos para chegar a um canteiro de construção civil
Por Pedro Henrique Cunha
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Na semana em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, fazemos uma homenagem às mulheres brasileiras, com suas histórias de luta, perseverança e coragem. Conheça a história de Ana Cláudia...
Mãe, esposa, profissional, dona de casa, estudante, vaidosa. Em meio a tantos atributos, a mulher se apresenta cada vez mais forte e decidida. Por mais corrida que seja sua rotina, ela está sempre pronta para tudo e soluciona os problemas do dia a dia. O acúmulo de funções não assusta mais, pois ela provou que é capaz e, se não conquista tudo que deseja, não deixa de tentar.
A cena é igual em muitas construções. Um vai-e-vem de carrinhos carregados de tijolos, madeira e ferro, com uma orquestra ao fundo de martelos, serras e furadeiras. Mas, atualmente, há algo diferente. Por trás das máscaras, dos capacetes e uniformes, está Ana Cláudia, de 42 anos.
Todo dia, ela faz tudo igual. Acorda bem antes das 6 horas da manhã. Deixa para trás, ainda na cama, marido e filhos, e se prepara para encarar mais um dia de batente, erguendo paredes, preparando fôrmas de madeira, colocando pisos, revestimentos, acabamentos, supervisionando e comandando batalhões de homens. Segundo Ana Cláudia, não há piadinhas ou cantadas em frente aos canteiros de obras. Mas muito trabalho pesado lá dentro.
Cláudia era doméstica havia dois anos e, por curiosidade, resolveu ingressar na construção civil. O marido estranhou um pouco no início e ela chegou a ouvir alguns comentários maldosos de colegas de trabalho. Mas, o comprometimento com a profissão acabou se sobrepondo aos obstáculos. “É o que quero seguir mesmo. Gosto realmente do que faço e não deixo de ser menos feminina por isso”, comenta.

"Eu gosto de ser pedreira, me identifico com a profissão. Como passei tempo demais sendo doméstica, foi uma grande vitória eu ter tido coragem de sair para trabalhar em outra área, mesmo depois dos 40 anos", afirma. Mas, ainda existe o preconceito: "Os homens sempre querem diminuir a gente, dizendo que lugar de mulher é na cozinha. Só pode ser medo da concorrência. O meu próprio marido já me disse coisas desse tipo, que um canteiro de obras não era lugar para mim. Já as mulheres ficam admiradas da coragem que eu tive de vir trabalhar em meio a tantos homens", revela Ana.
Para ela, as vantagens de ser mulher numa obra são muitas: “Nós somos mais detalhistas, mais limpas, organizadas, mais econômicas com o material. Sabemos administrar e não desperdiçamos, estamos sempre querendo mais serviços.” Ana conta, ainda, que ser fisicamente forte não é mais necessário nessa profissão, já que atualmente há maquinários que evitam o uso excessivo da força. “Hoje o concreto já vem pronto, por exemplo”, disse ela, que acredita que o grande desafio é vencer o paradigma e impor respeito diante dos homens nas construções.
Cansaço, aliás, é uma palavra que não faz parte do vocabulário de Ana Cláudia, ela precisa ignorar, já que o trabalho não acaba com o fim do expediente. A pedreira lembra que em casa tem mais serviço. “A gente precisa fazer comida, cuidar dos filhos e lavar a roupa quando chega. É cansativo, mas normal. Não vou desistir do trabalho na obra. Sinto prazer em trabalhar aqui, é uma coisa que eu quero aprender cada vez mais”, afirma.
Feliz e realizada profissionalmente, a pedreira só tem motivos para sorrir. Segunda ela, não existe nada melhor do que fazer o que se gosta. “Posso dizer que sou uma pessoa realizada. Por detrás da aparência de frágil, às vezes até fútil, mostro meu grande potencial”. Para uem pensa que trabalhar entre cimento e areia é preciso deixar a vaidade de lado, Ana Cláudia deixa uma aviso: “O cuidado com a beleza é levado muito a sério. O batom nunca é dispensado e o cabelo está sempre arrumado. O trabalho não ofusca a feminilidade. Só não uso brinco por causa da segurança do trabalho”, finaliza.