Orientação na hora da descoberta sexual é fundamental
Por Tany Souza
tany.souza@arcauniversal.com
Não são raros os relatos de relacionamentos entre parentes, como primos, irmãos, tios e sobrinhos, o chamado incesto. Mas o que é realmente isso? “Incesto é a relação apaixonada, a confusão do sentimento, o excesso de amor que se transforma em relação sexual”, explica a psicóloga Aline Desiré Lemos.
Essa confusão pode começar na infância. “Quando a criança passa pelo momento da descoberta sexual, é preciso que os pais fiquem atentos. Os irmãos acabam se aproximando para descobrir no outro a diferença dos sexos, por isso, a ausência de cuidado da família, sem um direcionamento, uma explicação, pode dar espaço para que aconteça o incesto”, diz a psicóloga.
Porém, ela destaca que uma relação incestuosa acontece entre pessoas da mesma faixa etária. Com pessoas de diferentes idades, a história é outra. “Quando há diferença de idade, como no envolvimento do pai com a filha, por exemplo, além de ser incesto é também pedofilia, que deve ter tratamento específico.”
Segundo Aline, o primeiro desejo que a criança tem é pelos pais, mas não é sexual, é o desejo do amor, do afeto, da atenção. “O incesto acontece quando um dos pais – até porque a atração da mãe pelo filho também pode acontecer – não tem essa censura, esse o limite, e ultrapassa a fronteira do fraternal.”
Os sintomas da violência sexual
A psicóloga explica que é fácil perceber quando uma criança está sofrendo abuso sexual. “Normalmente, a criança denuncia com uma mudança muito grande de comportamento, como, por exemplo, passando de extrovertida para introvertida, tímida. Também pode voltar a fazer xixi na cama, ter terror noturno, ficar mais isolada e com medo de estar perto do molestador. Mas são vários sintomas juntos que podem indicar a agressão.”
Além de sofrer essas mudanças comportamentais, se não for tratada a tempo e crescer com esse trauma, as consequências podem ser ainda maiores. “Se não buscar ajuda quando descoberto o incesto, quando se tornar adulta, ela tentará se vingar, abusando de outras pessoas. Sempre alguém que molesta já foi molestado”, ressalta Aline.
Como ajudar
Ao descobrir um caso como esse na família, o primeiro passo é ter uma conversa com as duas pessoas. “É preciso sempre esclarecer, conversar e buscar ajuda. O molestador vai sempre negar, jamais vai assumir e ainda dirá que foi induzido a isso, que seus atos foram recíprocos.”
É claro que esse abuso é tão grave que tanto o molestador como a vítima precisam de ajuda profissional. “Quem foi molestado busca mais ajuda, pois o molestador não se vê como doente, que precisa de tratamento. Neste caso, a família pode buscar ajuda também para saber como lidar com o agressor. Mas, normalmente, quando um caso desses chega à clínica de psicologia, já houve a separação da família”, conta a psicóloga.
De acordo com Aline, há casos em que o trauma é tão profundo, que a pessoa não se lembra do que aconteceu. “O mecanismo de defesa do cérebro pode apagar da memória, mas o inconsciente vai demonstrar, em alguma atitude involuntária, que ela sofreu o incesto na infância. Porém, é importante ressaltar que cada pessoa é um caso em específico e demonstra de formas diferentes. Não há um padrão comportamental.”